Nem os maiores cientistas do mundo escaparam de falar uma asneira ou outra ao longo da história.
por Texto Karin Hueck
Todo gênio tem seu dia de asno. Do pai da física moderna, Isaac
Newton, ao maior cérebro de todos os tempos, Albert Einstein: ninguém
escapou de um escorregão ou outro ao longo da vida. Reunimos aqui as
maiores bobagens já levadas a sério na história da ciência.
Séc. 3 a. C.
“Quanto mais pesada é uma pedra, mais rápido ela cai.”
Aristóteles. Ele só foi desmentido por Galileu, 19 séculos depois.
Séc. 16
O inferno de Galileu
Gênio burro: Galileu Galilei.
Por que ele é um gênio: Fez descobertas importantes na mecânica, na física e na astronomia.
Por que ele é um burro: Provou matematicamente a existência do inferno de Dante.
Galileu Galilei era um rapaz perdido na vida. Em 1585, tinha acabado
de largar a faculdade de medicina para se dedicar às ciências exatas,
contra a vontade do pai. Para concorrer a uma vaga de professor de
matemática na Universidade de Pisa, o cientista resolveu entrar numa
polêmica que movimentava a ciência da época havia 100 anos: onde e como é
o inferno? Galileu calculou e localizou não o inferno bíblico, mas o de
Dante Alighieri, da Divina Comédia. Usando bases matemáticas, ele o
descreveu como cônico, com a parte mais profunda no centro da Terra e o
teto logo abaixo da crosta terrestre, em volta de Jerusalém. Para nós,
parece uma viagem tão grande quanto tentar descrever o castelo de
Frankenstein, mas o estudo foi recebido com entusiasmo pela academia de
Pisa. Tratar a fé com seriedade científica fazia sentido na época –
aliás, era bom ser respeitoso com a Igreja. Em 1632, quando Galileu
defendeu que a Terra girava ao redor do Sol, e não o contrário, por
pouco ele não foi executado pela Inquisição. Acabou tendo de negar a
descoberta para, assim, salvar a pele.
Kepler, o sagitariano
Gênio burro: Johannes Kepler.
Por que ele é um gênio: Descobriu as leis do movimento planetário.
Por que ele é um burro: Acreditava que a astrologia e a astronomia eram a mesma coisa.
O casamento de Johannes Kepler estava marcado para o dia 27 de abril
de 1596, mas algo incomodava o noivo. Embora estivesse apaixonado por
sua futura esposa, o cientista alemão pressentia que seu casamento seria
um fracasso. O motivo? A “constelação de mau agouro” que se formava no
céu aquele dia. Sim, o astrônomo que descobriu a lógica por trás dos
movimentos planetários não fazia nada sem consultar o horóscopo antes.
Boa parte de seus trabalhos foi dedicada a validar a astrologia frente à
astronomia, e provar que uma não existe sem a outra. Aliás, sua maior
fonte de renda eram os mapas astrais que fazia por encomenda – mais de
800 deles estão preservados até hoje. Assim, com base nos astros, ele
descreveria o pai como “propenso ao crime, brigão, passível de um final
infeliz”, e a mãe era “magra, tagarela e mal-humorada”. Ele foi o último
cientista importante a acreditar que astrologia e astronomia eram a
mesma coisa. (Só para constar: seu casamento, de fato, foi um fracasso.)
Séc. 17
Xixi brilhante
Gênio Burro: Robert Boyle.
Por que ele é um gênio: Calculou a relação entre volume e pressão em gases.
Por que ele é um burro: Acreditou que urina daria origem à pedra filosofal.
O pai da química, quem diria, foi um alquimista de mão-cheia. O
inglês Robert Boyle transformou a química numa ciência racional ainda no
século 17, e foi o primeiro a descobrir a relação entre pressão e
volume nos gases. Acontece que ele passou boa parte da vida procurando a
pedra filosofal – aquela que transformaria qualquer metal em ouro – e
de um jeito pouco convencional. Em 1677, Boyle soube que um alquimista
alemão havia descoberto uma substância que brilhava no escuro e que
daria origem à pedra filosofal. Boyle pediu ao alemão uma dica para que
ele também pudesse experimentar com o material. “A substância vem do
corpo humano”, foi a resposta. Boyle, então, passou anos coletando a
urina das latrinas da mansão onde morava para fervê-la, cozinhá-la e
misturá-la a outras substâncias, na esperança de chegar ao material
brilhante. Dois anos e muitas idas ao banheiro depois, ele conseguiu
isolar a substância misteriosa, que nada mais era do que fósforo – e não
transforma coisa alguma em ouro.
“A luz viaja mais rápido pela água do que pelo ar.”
Isaac Newton, afirmando exatamente o contrário do que acontece.
Séc. 18
O mago newton
Gênio burro: Isaac Newton.
Por que ele é um gênio: Determinou todas as leis da física.
Por que ele é um burro: Estabeleceu uma data para o fim do mundo.
Isaac Newton passou a maior parte da vida estudando... a Bíblia. Pois
é, o homem que determinou as 3 leis básicas da física dedicou muito
mais tempo e páginas escritas (cerca de 1,3 milhão de palavras) a
desvendar as profecias bíblicas e a entender os segredos da alquimia do
que a descobrir as regras da mecânica. O cientista chamava de “fanáticas
e despreparadas” aquelas pessoas que levavam a Bíblia ao pé da letra,
então o que ele fez? Ficou obcecado em encontrar os significados
escondidos das escrituras sagradas. Foi assim, por exemplo, que ele
calculou a data do fim do mundo, previsto para 2060 (se o mundo
realmente acabar, pedimos desculpas a Newton). Os textos não científicos
do inglês são pouco conhecidos e revelam que ele usava termos místicos e
códigos misteriosos para descrever suas descobertas na alquimia, como
“o sol se põe na água brilhante” – que queria dizer simplesmente “o ouro
derrete”. O problema é que, no comecinho do século 18, esse tipo de
estudo já estava ultrapassado. E o pior: durante anos, Newton nem tomou
conhecimento da física. Como disse o economista John Maynard Keynes, que
comprou os manuscritos religiosos do físico, em 1936: “Newton não foi o
primeiro homem da idade da razão, mas o último dos magos”.
“A República não precisa de cientistas.”
Jean-Paul Marat, revolucionário francês, minutos antes de Lavoisier, o descobridor do oxigênio, ser decapitado na guilhotina.
Sapos elétricos
Gênio Burro: Luigi Galvani
Por que ele é um gênio: Descobriu a corrente elétrica.
Por que ele é burro: Achava que rãs mortas emitiam eletricidade
A moda, no fim do século 18, era investigar a energia elétrica. Luigi
Galvani era um professor de anatomia na Universidade de Bolonha em 1780
e era apenas mais um cientista que fazia seus estudos em mais de uma
área do conhecimento. Galvani resolveu observar o que aconteceria se
colocasse energia elétrica no sistema nervoso de rãs mortas.
Surpreendentemente, as pernas do animal se retorciam com a eletricidade.
E o mais assustador: bastava molhar o anfíbio e ligar uma máquina que
emitisse faíscas elétricas por perto para fazer a rã se mexer. Nem ao
menos era preciso encostar as faíscas no animal! O italiano tinha
descoberto a corrente elétrica, que mais tarde seria a base para o
galvanômetro, aparelho capaz de medir essa corrente. Como a física da
época não conseguia entender o fenômeno, Galvani publicou um trabalho
dizendo que os músculos dos sapos emitiam eletricidade – e que isso
seria o fluido vital que explicaria a vida de todos os seres vivos.
Genial, não?
Sec. 19
“Sou totalmente contra essa viagem do Charles com o Beagle. Ele
está se afastando da Igreja e entrando numa vida de jogos e preguiça.”
Robert Darwin, pai de Charles Darwin, antes da viagem que serviria de inspiração para a Teoria da Evolução.
“Acho que essas ondas sem fio que eu descobri não têm nenhuma aplicação prática.”
Heinrich Hertz, descobridor das ondas de rádio.
Séc.20
Ele já sabia
Gênio Burro: Albert Einstein.
Por que ele é um gênio: Transformou todos os conceitos da física para sempre.
Por que ele é um burro: Descobriu que o Universo está em expansão, depois negou a descoberta, depois assumiu de novo a expansão.
Em 1900, o Universo era estático. Albert Einstein era apenas mais um
físico a acreditar que a Via Láctea e todas as outras galáxias estavam
fixas no espaço, e ficariam assim até o fim dos tempos. Mas ele não era
um cientista qualquer. Quando Einstein bolou a Teoria da Relatividade –
na qual o espaço e o tempo se distorciam em função da massa e da energia
–, ele descobriu que as contas só fechavam se o Universo estivesse em
movimento. Como essa possibilidade era inconcebível até mesmo para ele,
inventou uma tal de “constante cosmológica”, que faria tudo ficar
paradinho. (Essa constante era tão furada que nem mesmo ele acreditava
muito nela quando a inventou.) Doze anos depois, o físico americano
Edwin Hubble conseguiu comprovar por meio de observações telescópicas
que o Universo estava, sim, crescendo. Einstein, gênio do jeito que era,
não insistiu na besteira. Reconheceu que sua primeira intuição estava
certa e chamou a constante cosmológica de maior erro da sua vida. Mesmo
na burrice, ele tinha razão.
“Não há nenhuma evidência de que se possa obter energia do átomo.”
Albert Einstein, antes da bomba atômica.
Fonte: http://super.abril.com.br/historia/quando-genios-foram-burros-447837.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_super
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